As mulheres estão cada vez mais sendo observadas em razão da conquista de novos espaços no mercado do empreendedorismo. Atualmente, o Brasil ocupa a sétima posição como país de maior número de mulheres que começam um negócio, isso de acordo com levantamento da Global Enterpreneurship Monitor (GEM) em 49 países. São 24 milhões de brasileiras com negócios próprios. Na frente estão lugares como Madagascar, Panamá e Indonésia. Os exemplos da participação direta das mulheres em inúmeros negócios mostram o empoderamento de quem, no passado recente, era chamada de sexo frágil.
Neste dia 8 de março, a data é significativa. Marca o Dia Internacional da Mulher. O Sebrae Lages está sempre atento ao crescimento global do mercado também com a participação da mulher, em especial, dos pequenos empreendimentos, e se mantém pronto para auxiliar através das consultorias especializadas.
Uma pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) mostra que a pandemia de covid-19 reduziu a proporção de mulheres no empreendedorismo. De acordo com o levantamento, no terceiro trimestre de 2020 havia cerca de 25,6 milhões de donos de negócio no Brasil. Desse universo, aproximadamente 8,6 milhões eram mulheres (33,6%) e 17 milhões, homens (66,4%).
Em 2019, a presença feminina correspondia a 34,5% do total de empreendedoras, o que representou a perda de 1,3 milhão de mulheres à frente de um negócio entre um ano e outro. A principal explicação para esse resultado foi a necessidade de as mulheres se dedicarem mais às tarefas domésticas durante a pandemia, um reflexo do machismo estrutural na sociedade.
A exemplificação da capacidade empreendedora se revela em todas as áreas do mercado. É o caso da jornalista Débora Puel e de Luiza Camargo que, em ramos distintos, alcançaram sucesso fora de suas profissões de origem.
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De jornalista à empresária
Formada em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e em Administração pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), a hoje empresária lojista Débora Puel (35), apesar de ter tido experiências como jornalista em algumas televisões, se voltou a outros modelos de negócios. Há pouco mais de 10 anos, se estabeleceu em Lages depois de conhecer o hoje marido Edson Colombo. Precisando trabalhar criou a primeira empresa, de assessoria de imprensa, mas não deixou a televisão totalmente de lado. No SBT SC atuava num programa independente, o Teleférico, voltado para o turismo e viajando pelo Estado. Era tudo feito por iniciativa própria mostrando que tinha talento para a independência profissional.
A partir do casamento e da chegada da primeira filha, Manuela, em 2015, foi quando tudo mudou. Débora conta que passou a pensar em algo que lhe permitisse ficar mais em Lages, e evitar as viagens. Empreender em algo era algo presente na vida dela. Foi então que decidiu explorar os conhecimentos da Faculdade de Administração. Entre as avaliações de mercado, sempre acreditou na proposta das franquias, o que tornaria, segundo ela, mais fácil e com mais chances de sucesso, porque há estudos prévios das franqueadoras quanto ao mercado a se estabelecer.
Assim, Débora se debruçou na pesquisa, e percebeu que em Lages há poucas franquias de calçados femininos. Pela identificação, por ser uma marca jovial, com produtos que trabalham muito bem com o couro, e além de tudo, por ser uma franquia catarinense optou pela Raphaella Bozz. A partir de então, até porque tinha ligação com os donos, e em março de 2017 a loja se estabeleceu no Centro de Lages. Foi aí que entrou também a consultoria do Sebrae, com treinamento específico de vendas, a partir do material da própria franqueadora. “Foi intenso. Foram dois dias de muito aprendizado ao lado da consultora do Sebrae”, lembrou Débora.
‘Atualmente, a loja de Lages é uma das principais da franquia da Raphaella Bozz, mesmo passando por uma crise em 2020, em razão da pandemia. Tanto que tem sido utilizada como referência no projeto de expansão da marca no Brasil’.
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Novo empreendimento
Por outro lado, a inquietude que faz parte do lado profissional, Débora decidiu avançar em outra franquia. Desta vez, no ramo da estética, a Royal Face, uma das maiores do segmento no Sul do País. Inaugurado em 30 de setembro de 2020, o novo negócio também se consolidou, e coincidentemente, foi aberto bem ao lado da loja de calçados, o que facilitou o gerenciamento dos dois empreendimentos. Com apenas seis meses da inauguração, já está entre as cinco melhores franquias, entre 75 lojas no Brasil e mais de 100 franquias vendidas.
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Luiza Camargo, paixão por animais desde criança
A empresária Luiza Camargo, de Lages, conduz uma das maiores empresas leiloeiras de Santa Catarina, com grande destaque na Serra Catarinense e arredores. A paixão por animais, feiras ou leilões vem desde criança, seguindo os passos dos pais, pecuaristas. Assim, cresceu envolvida com os eventos relacionados com o gado na companhia do pai. A presença constante nos leilões despertou nela a ideia de atuar no ramo quando crescesse. Já na adolescência, sem mudar de pensamento, achava que deveria cursar veterinária, e logo se infiltrou em empresas leiloeiras fazendo pista, tanto em Lages (SC), como no Rio Grande do Sul.
Quis o destino que ela cursasse a faculdade de Direito. Porém, recém-formada, e questionada pela mãe sobre o que iria fazer com o canudo, ela respondeu que não iria atuar no direito, e sim criar uma empresa leiloeira, e assim fez. A empresa passou a se chamar Camargo e Peroni, de forma societária com o marido, e desde o início teve total apoio do Sindicato Rural de Lages, isso em 2007. “Recebi muitas orientações e conselhos que ajudaram a dar corpo à empresa, e logo começaram os primeiros trabalhos. No primeiro ano foram dois ou três. Hoje a gente faz mais de 50 leilões num único ano”, explica.
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Enfrentando o preconceito e sociedade rompida
Em 2015, ao romper a sociedade deu nova denominação à empresa Camargo Agronegócios. Segundo conta, pode dar mais da própria identidade à empresa, sempre apoiada pelos dirigentes do Sindicato e grandes produtores da Região, assim, seguiu crescendo com muito sucesso. Ressalta, no entanto, que é muito difícil trabalhar num ramo que tem domínio masculino; existe muito preconceito em torno disso. Mas, sempre conseguiu ter bom trânsito em meio aos produtores, fazendeiros e pecuaristas, utilizando a mesma linguagem deles, exatamente por ter sido criada no mesmo meio, o que torna para si, muito normal conversar sobre gado e o comércio de animais. “Mesmo assim enfrentei várias dificuldades em razão dos preconceitos, mas que só me fortaleceram”, disse.
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Evolução tecnológica
Ainda em 2019, antes mesmo de acontecer a pandemia, Luiza tinha em mente o projeto de ter leilões transmitidos em televisões fechadas e nas redes sociais, mesmo com o público presente. Quando se deu a pandemia já estava um pouco à frente da concorrência pela visão de que os leilões seguiram uma tendência de serem cada vez mais transmitidos virtualmente. Até porque, os compradores já não estavam mais se deslocando com tanta frequência para os leilões presenciais. Mesmo assim, tudo foi muito difícil. Pouco se sabia sobre o comportamento das unidades sanitárias em relação à doença, e que decisão seria tomada. Foi preciso então se reinventar em questão de dias, num projeto que se planejava de forma progressiva, teve que ser implementado a “toque de caixa” para não fechar as portas.
‘Luiza não procurou a orientação do Sebrae. Mas, sabe o quanto as consultorias podem servir em seu negócio. Sabe também que o meio rural tem se servido dos seus serviços cada vez mais, o que só agrega na construção do agronegócio’.
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Leilões virtuais consolidados
Atualmente a empresa conseguiu se consolidar com os leilões virtuais. E se precisar responder, se um dia os leilões devem voltar a ser presenciais, pós pandemia, afirma que o público deve voltar, mas as transmissões virtuais nunca mais serão deixadas de lado. Segundo diz, a tendência é de seguir evoluindo, com novas ferramentas e novos métodos. Enfim, a essência do leilão em meio à pandemia não se perdeu. Mudou o jeito de fazer apenas, inclusive, com alcance de um público bem maior, o que torna os leilões atrativos para quem assiste como a um bom programa de televisão. “Sou muito plena e realizada na profissão que escolhi desde criança, e não me imagino fazendo outra coisa na vida”, concluiu.